terça-feira, 3 de abril de 2012

Sociedade high tech sofre com desequilíbrio emocional

Outro dia, ouvi alguém dizer que quanto mais tecnológica é a sociedade, mais ela sofre. E por que seria assim? O motivo é que o ser humano desenvolve a tecnologia e ela não para de evoluir. E ele, sôfrego e faminto por mais desenvolvimento, vai atrás dela e tudo faz por esse modo de vida. Só que no processo, se esquece de um detalhe mínimo: as suas emoções. E aí, temos uma combinação perigosa e macabra: uma criatura dotada das mais avançadas máquinas e artefatos, engenhocas robotizadas e ultrassofisticadas que lhe abrem as portas do mundo e do outro. Só que elas não transpõem o terreno das emoções. A criatura vira estranha para si mesma, alienada de suas próprias emoções e sentimentos. É como a antiga Esfinge: decifra-me ou te devoro. Essa Esfinge, que somos nós mesmos, desconhecedores do que somos e do que queremos ser, se não for bem trabalhada, degenera. E viramos robôs desalmados e desnaturados, achando que os meios justificam todos os fins. Acabamos por nos tornar monstros, supermonstros da tecnologia a serviço da eliminação do inconveniente. Esse inconveniente pode ser qualquer coisa: geralmente, é o outro ou, não raro, a própria pessoa. Tudo isso me vem à mente hoje, quando a tragédia do massacre da escola de Realengo está completando um ano. O atirador virou o monstro armado com duas pistolas e os respectivos speedloaders. Sofredor e sofrido, ele queria terceirizar, só para usar a palavra da moda, suas emoções mal trabalhadas e resolvidas. http://www.youtube.com/watch?v=pD57WpziHpI O bullying da infância o transformou no bolinador. Vítima e algoz se confundiram e trocaram os papéis. Para quê? Para caminharem para o abismo do ódio, da intolerância e da anulação. Do extermínio puro e simples. Também me causa estranheza o comércio das sex shops. Nele, se vende o prazer enlatado, siliconizado e também tecnológico. Hoje, até se imita a pele humana em alguns artefatos de prazer. Há todos os tipos de cores, sabores, odores, texturas e tamanhos para satisfazer os mais exigentes clientes. Podemos avaliar os (des)caminhos da sociedade moderna: pelo prazer e pelo desprazer. Pelo que aceita e o que não aceita. Pelo prazer, é incentivado o deleite a distância, solitário e coisificado. Não há troca de emoções entre dois corpos: há, sim, a substituição dela. E pelo desprazer, basta ver a quantidade de assassinatos, massacres, extermínios, homicídios, latrocínios e chacinas. Todos apontam para a intolerância, a competitividade ou a anulação do outro como algo a ser expurgado. Será que estou pessimista? Receio que não. Às vezes, a realidade é que pesa demais. Mas ainda há esperança. Enquanto houver a arte, a literatura, a música e o riso de uma criança, ou de um palhaço, há salvação para a Humanidade.

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